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Por Davi Marki – [email protected]

Sou um alpinista e era minha oitava ou nona vez que estava na Bolívia, onde eu daria um curso de escalada no gelo.

La Paz, uma das capitais da Bolívia (a Bolívia tem duas capitais, a outra é a cidade de Sucre), fica a quase 4 mil metros de altitude acima do nível do mar e, para qualquer um que não está aclimatado a esta altitude, qualquer atividade que envolva esforço físico é muito desgastante.

O curso de escalada já havia acabado e eu estava com um ex-aluno que costuma pedalar um bocado aqui pelo Brasil. Andando sem rumo pela cidade, comentei que podíamos fazer o “tal do downhill” da estrada da morte…

Esse é um passeio muito difundido pela cidade. Os aventureiros que passam por ali constantemente deparam-se com anúncios e propagandas das empresas que oferecem o downhill. E eu sempre achei o apelo de marketing da “Estrada da Morte” de um gosto bastante duvidoso e, além disso, tinha as minhas desconfianças sobre se seria ou não algo merecedor de nosso tempo na cidade.

UMA DESCIDA DE 65 KM…

A estrada tem esse nome sugestivo em virtude da grande quantidade de acidentes que acontecem em seus quase 70 km de descida. Ela tem início em “La Cumbre”, a 4.700m, e termina em Yolosa, a 1.100m. São inacreditáveis 3.600m de desnível, em apenas 65 km de distância.

Eu na minha inocência, achava que todo o marketing montado em função da estrada fosse apenas mais um atrativo para os turistas que visitam a cidade.

E então, em um dia qualquer de julho de 2004, estávamos lá eu, o Thiago Fernandes e o Armando Gonçalves comprando os nossos passeios de bicicleta, com direito a comida no caminho, fotos, camiseta, banho de piscina e lanche no final do dia e as bicicletas para usarmos no passeio.

Tudo custou US$ 33 (cerca de R$ 70) com a empresa DownHill Madness. (Essa foi uma empresa muito bem recomendada, uma outra bastante recomendada era a Gravity Downhill, com o mesmo valor).

ABISMOS E CAMINHÕES

No dia seguinte bem cedo, encontramos o grupo. Éramos em torno de 11 pessoas e recebemos rápidas instruções sobre como brecar, posicionar o corpo etc.. Nos deram roupa completa, luvas, capacete e tudo o mais. A bicicleta impressionava: montada especialmente para downhill, possuía pneus largos que pareciam pertencer a alguma Mobylete ou motocicleta. Tinha freios a disco dianteiros e traseiros e suspensão.

O guia do grupo disse-nos que haveria sempre uma van de apoio, caso alguém do grupo sentisse medo da descida e quisesse desistir era só parar e continuar o passeio dentro da van. Na minha opinião, toda aquela “encenação” era apenas para impressionar os turistas…

Começamos com uma descida tranqüila em uma estrada asfaltada. Subitamente o asfalto acabou, a inclinação aumentou, a estrada foi ficando cada vez mais estreita, o tráfego de carros e caminhões aumentou e então dei-me conta de que a estrada era mesmo “perigosa”.

Os abismos eram vários, todos em sucessão e realmente impressionantes. Em muitos trechos tínhamos cerca de cinco metros de estrada (às vezes até menos), um paredão rochoso de um lado, o abismo de outro, um caminhão subindo, um carro descendo e nós ali, com toda a adrenalina pulsando forte em nossos corpos. Tínhamos a certeza que, um descuido qualquer, uma frenagem em um momento errado ou uma derrapagem, poderiam facilmente nos jogar para o fundo do abismo.

A velocidade das bikes chegava em alguns trechos a quase 70 km/h e, mesmo freando, parecia que as bicicletas não conseguiriam parar naquela estrada de terra!

Para mim, que nunca havia feito um downhill na vida, tentei desistir da descida umas três vezes, e nada da tal da van aparecer.

O negócio era continuar em frente, para não me distanciar muito do grupo.

O downhill demorou umas 4h30min e terminou em meio a uma selva.

Começamos a 4.700m junto às montanhas nevadas e com bastante frio e inacreditavelmente estávamos agora, junto a araras, macacos, cachoeiras e piscinas naturais (e com bastante calor).

Foi um passeio realmente incrível. Eu sinceramente não esperava nada disso e achava que fosse um esquema bem turístico. Muito pelo contrário. Apesar de ter sido tudo muito bem organizado, com bicicletas impecáveis e atendimento bastante cordial, o risco era sempre muito presente, e qualquer descuido certamente poderia ser fatal.

Eu recomendo esse downhill para todos que tiverem a oportunidade de passar por La Paz e coloco-me a disposição para eventuais dúvidas.

Meu site: www.marski.org
Operador na Bolívia: www.gravitybolivia.com