Texto: Alessandro Giannini | Fotos: André Pavani – Cia do Pedal
Nascido em 14 de março de 1931 na cidade paulista de Boa Esperança do Sul, Anésio Argenton é um dos maiores ícones do ciclismo brasileiro e uma lenda viva da modalidade.
Os feitos de Argenton ainda levarão décadas para serem superados. O atleta brilhou e reinou absoluto no país do final dos anos 40 até início dos anos 60.
Argenton traz no currículo o melhor resultado do Brasil na história das Olimpíadas em provas de pista (velocidade) com a quinta colocação nas Olimpíadas de Roma, em 1960. Ele é também o único ciclista com medalha de ouro em Jogos Pan-Americanos, com uma medalha conquistada em Chicago, em 1959. Argenton tem outros diversos outros títulos sul-americanos, brasileiros e em Jogos Abertos.
Considerado um dos 100 maiores atletas do século passado pela revista Época, na edição especial das olimpíadas de Atlanta, em 1996, Anésio Argenton é aposentado da antiga Estrada de Ferro Araraquarense e vive em Araraquara desde menino. Mora com sua esposa Antônia e suas filhas Márcia e Marisa.
Anésio começou a praticar ciclismo pelas estradas de terra da cidade com uma bicicleta de pneu “balão” e dividia seu tempo entre o trabalho de entrega de mercadorias de um armazém da cidade.
Logo começou a se destacar nos treinamentos e, iniciando nas competições, não foi diferente. Vestindo a camisa da Ferroviária venceu várias competições em São Paulo e logo recebeu o convite para competir pela equipe da Caloi, em São Paulo.
Na Caloi pedalou ao lado de grandes ciclistas brasileiros como Roberto Barbosa, Antônio Alba, José de Carvalho, Cláudio Rosa, Luís Carlos Flores, entre outros.
As poucas estradas asfaltadas tornavam difícil a tarefa de treinar e a maioria das competições eram em estradas de paralelepípedo e terra. As bicicletas eram incomparavelmente inferiores às bikes dos adversários estrangeiros.
O tempo passava e os feitos de Argenton são memoráveis se levarmos em conta a falta de apoio, as viagens longas, a falta de orientação e o escasso apoio técnico e físico da época no país
CAMPEÃO SEM TROFÉU
No campeonato Sul-americano de 1959, em Caracas, na Venezuela, o recordista mundial, um venezuelano, estava com o melhor tempo da prova do KM contra o relógio. Anésio Argenton foi o último a largar e pulverizou o tempo do venezuelano. Venceu a prova e deixou o velódromo de Caracas a um silêncio fúnebre. O troféu de campeão ele não trouxe, porque simplesmente já estava gravado com o nome do campeão local.
Nas Olimpíadas de Melbourne, em 1956, e na de Roma, em 1960, Argenton não contava com nenhum tipo de apoio. Nem massagista, nem técnico, nem alguém sequer para segurar a sua bicicleta para a partida da prova do KM contra o relógio. Mesmo assim obteve a sexta colocação na prova do KM em Roma. Em Roma, o pai do boxeador Éder Jofre fez o papel de massagista.
DIAS ATUAIS
Aposentado do esporte de competição, por assim dizer, desde o final da década de 60, Anésio Argenton continuou ligado ao ciclismo e colaborando com seus conhecimentos como coordenador de equipe e dirigente esportivo da equipe de Araraquara, cidade que tem tradição nesse esporte, obtida também através dos tempos por grandes nomes do pedal, como Adolpho Fécchio, falecido aos 76 anos, em 2001, 18 vezes campeão do interior em provas de resistência
Argenton trabalhou por muitos anos com sua bicicletaria, hoje desativada, no bairro de Santa Angelina, na Rua São Bento, em frente à sua casa.
Por muitos anos sua história de vida e sua carreira serviu de exemplo para o surgimento de toda uma geração de atletas e esportistas, não somente do ciclismo.
Vitorioso no esporte e na vida, Anésio Argenton superou um câncer nos intestinos e hoje, apesar do fato de ter um desgaste nos dois joelhos e utilizar de um aparelho andador para se locomover, goza de bom estado de saúde física e mental.
Em 2001, Argenton foi homenageado pelo Comitê Olímpico Brasileiro com o Prêmio Brasil Olímpico, quando foram homenageados os maiores atletas brasileiros vivos de todas as modalidades na história das Olimpíadas. A placa de homenagem ele guarda juntamente com sua bicicleta italiana Cinelli, fabricada especialmente para ele e com a qual obteve grande parte de suas conquistas.
PRINCIPAIS CONQUISTAS
Jogos Abertos: Venceu praticamente todos nas provas de KM contra o relógio
- Rio Claro em 1949;
- Jundiaí em 1950;
- Ribeirão Preto em 1952;
- Sorocaba em 1954;
- Piracicaba em 1955.
Campeonatos Brasileiros (Velocidade):
- Florianópolis em 1952;
- São Paulo em 1954/55/58.
Campeonatos Sul-Americanos: (Km e Velocidade):
- Uruguai em 1952 – Medalha de Prata
- São Paulo em 1954 e 56 – Medalha de Ouro
- Venezuela em 1959 – Venceu a prova de KM contra o relógio, mas não levou o troféu.
Jogos Pan-Americanos (Km Contra o Relógio):
- México em 1955 – 4º colocado;
- Chicago em 1959 – Medalha de Ouro;
- São Paulo em 1963 – Medalha de Bronze (com uma enorme furunculose na virilha).
Olimpíadas (Velocidade e Km contra o relógio):
- Melbourne em 1956 – 7°colocado (velocidade) e 9° (KM);
- Roma em 1960 – 5º colocado (velocidade) e 6° (KM);



