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Alex Arseno publica texto de despedida

Alex Arseno publica texto de despedida

Do Bikemagazine
Foto de divulgação/arquivo

Após o comunicado da CBC (Confederação Brasileira de Ciclismo) de que Alex Arseno estava suspenso por doping, o próprio ciclista admitiu publicamente, via Facebook, que o momento é “de “despedida, um derradeiro adeus, com profunda dor e arrependimento”.

Para o ciclista, “não há justificativa” para o doping. “Aceito, resignado, e com imensa dor”, escreve. Arseno afirma ainda que, na “companhia dos familiares queridos” vai refletir sobre seus erros e projetar “um rumo para o futuro”.

Arseno, que atualmente integrava a equipe ECT Taubaté e foi atleta da Seleção Militar, foi testado em exame surpresa realizado pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem antes da viagem da equipe para os Jogos Mundiais Militares na Coreia. Essa foi a 2ª vez que Arseno é pego por EPO. A 1ª vez foi em 2009, no Tour de Santa Catarina, quando cumpriu suspensão de dois anos.

Após o doping, a equipe ECT Taubaté comunicou o desligamento do ciclista. “Primeiramente, gostaríamos de deixar claro que a Equipe de Ciclismo de Taubaté (ECT) não apoia a atitude do atleta, pois essas atitudes não condizem com as premissas que envolvem nossa equipe, que sempre priorizou e sempre irá priorizar um esporte “limpo” que busca os melhores resultados através de treinos e dos esforços de nossos atletas. Por essa razão, informamos que o referido atleta está desligado da ECT, visto que o mesmo, de maneira honesta, assumiu em seu esclarecimento o uso da substância”, informa a equipe.

Na listagem da CBC publicada dia 23/10 o ciclista era o líder do ranking nacional na Elite, com 682 pontos. Em segundo lugar aparece Elton Pedroso da Silva (Memorial), com 558 pontos, e em terceiro Fabiele Mota (ECT Taubaté), com 440 pontos.

Confira na íntegra o texto publicado pelo ciclista

“Ao longo de 17 anos de carreira, entreguei-me com todo o meu ser a um esporte que nem sempre recompensa o esforço e desprendimento que a ele dedicamos. Iniciei no ciclismo aos 15 anos de idade e a magia das primeiras pedaladas, aquela sensação de percorrer o quarteirão de casa em alta velocidade, livre de tudo e de todos, haveria de dominar o meu futuro. Também jamais esquecerei a primeira competição, aos 16, e toda aquela carga de adrenalina sem igual; a imensa alegria mesmo ante o fôlego escasso, as pernas falhas e a primeira de muitas derrotas!

O que mais me capturou, contudo, foi a progressão única que esse esporte oferece a quem tem a paciência e a teimosia de suportar as suas condições. Assim, se começa percorrendo trinta quilômetros e logo se está a disputar com os melhores da nação! Existe, nesse ínterim, tanta beleza e tantos sentimentos, que só posso me lembrar sorrindo e extremamente agradecido por tê-los para sempre comigo em memória.

Vencer, então, é outro universo. O sabor de erguer os bracos, enquanto a bicicleta desfila só, atravessando a linha branca pintada sobre o asfalto , nas raríssimas oportunidades em que isso é possível, paga toda gota de suor que deixamos cair pelas estradas. Isso porque, sendo a derrota a regra absoluta do esporte, tanto mais doce e gloriosa é a sua exceção. Tenho 32 anos de idade, e, não tendo vivido tanto quanto muitos, ainda assim, estou convencido de que se cuida de uma das mais intensas experiências que o ser humano possa provar.

Mas esse texto não foi feito para ser de uma homenagem ao ciclismo, apesar da minha paixão contaminar, do começo ao fim, este depoimento. Antes, é uma despedida, um derradeiro adeus, com profunda dor e arrependimento.

Pela segunda vez em minha carreira recebo notificação oficial de que foi encontrada em mim Eritropoietina sintética – hormônio que aumenta no corpo a produção de glóbulos vermelhos, o que é vital para a resistência física – acusação que não nego. Ao contrário, aceito, resignado, e com imensa dor.

Não há, de fato, justificativa para a minha conduta além do desejo constante de ser competitivo e estar na altura dos meus principais rivais. Em um esporte onde o sofrimento está na raiz da vitória, e só essa pode continuar promovendo o sustento de sua família, por vezes se é coagido a recorrer a medidas extremas. Foi o meu grande erro, pelo qual estou disposto a enfrentar as consequências.

Assim, lamentavelmente , fecham-se as cortinas sobre minha carreira profissional. Retiro-me, arrependido, é certo. Contudo, fiz o que pude, com as informações que tive e sou fruto da época em que vivi. Honestamente, acredito na renovação do esporte de alto rendimento. Existe esperança e, eu, particularmente, gostaria de, em um futuro próximo, colaborar para que as gerações seguintes não precisem enfrentar os mesmos dilemas com os quais me deparei, ao longo de toda minha carreira, no seio do esporte profissional.

Retiro-me, por ora, ao conforto dos braços de minha esposa Camila e da companhia de meus familiares queridos para que possa refletir com calma sobre os meus erros e projetar com serenidade um rumo para meu futuro.

Fica aqui, meus amigos, a minha eterna paixão pelo ciclismo e, principalmente, permanecem indeléveis as memórias de companheirismo, de luta e sacrifício, vitórias e derrotas, que inevitavelmente acompanharam a minha trajetória, cujo final pode parecer, a principio, infeliz, mas que, todavia, carrega em si imensa alegria por tudo o que foi vivido.

Sinceramente,

Alex David Mayer Arseno”

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