
Benedito Tadeu Junior, o Kid, criador e manager da equipe Funvic Foto: Luis Claudio Antunes
Marcos Adami / Do Bikemagazine
Foto de divulgação
O Bikemagazine conversou com exclusividade com o manager da Funvic, Benedito Tadeu Junior, o “Kid”, na noite do lançamento da equipe para a temporada 2017 na noite de quinta-feira (9 de fevereiro), em Pindamonhangaba, interior de São Paulo. O empresário de 39 anos contou sobre os planos para o único time sul-americano com licença Pro Continental para o futuro e as mudanças depois dos casos positivos de doping que resultaram na suspensão da equipe pela UCI por 55 dias, prazo que terminou neste domingo (12 de fevereiro).
“Em nenhum momento eu pensei em fechar as portas. Mesmo se eu não tivesse a licença Pro Continental, eu iria continuar com uma equipe nacional”, começou Kid, na entrevista acompanhada por toda a equipe reunida numa pizzaria da cidade depois da cerimônia de apresentação na sede da Funvic (Fundação Universitária Vida Cristã).
Kid se referia à suspensão da equipe por 55 dias pela UCI por dois casos positivos de doping que aconteceram em novembro de 2016. Assim que a UCI divulgou os positivos, alguns patrocinadores deixaram a equipe de imediato. “Alguns patrocinadores foram precipitados, mas sei que alguns voltaram atrás e possivelmente estarão conosco de novo em 2018”, diz. A equipe continua a usar as bicicletas Soul bem como os componentes da Shimano que ainda possuem da temporada 2016, mas sem o patrocínio destas empresas.
“Eu fiquei muito chateado com os casos positivos que tivemos. Eu confiava nos caras. Eu não fico 24 horas por dia com todos os atletas e não tenho como saber o que eles fazem. Agora, acho que tenho que parar de confiar nas pessoas. Alguns atletas quase acabaram com nossa equipe e com um projeto deste tamanho”, afirma.
Para Kid, a equipe foi tratada de maneira muito severa pela maioria da mídia especializada. “Muita gente não sabe que o nosso maior investimento em 2016 foi justamente com o passaporte biológico. Investimos 85 mil euros neste sistema. Procuramos eles voluntariamente. Não dá para burlar este sistema”, explica.
Depois que a equipe se filia ao programa de passaporte biológico, os controles aumentam, inclusive com visitas-surpresa. “Veio gente até de Portugal e da Espanha coletar amostras. É bem rigoroso. Eles têm autonomia total para as checagens e a maioria delas é feita de surpresa na casa do atleta”, explica.
O ciclista tem um aplicativo e diariamente tem que informar o endereço onde vai estar por pelo menos uma hora. Qualquer vacilo e o atleta pode ser penalizado como positivo. Na temporada 2016 os atletas passaram por nada menos que 132 exames de controle-surpresa. Desde janeiro deste ano equipe faz parte do MPCC, um movimento criado na França e que reúne 42 equipes de ciclismo que se submetem voluntariamente a uma série de normas para um ciclismo mais limpo. Leia mais aqui
Além da equipe de ciclismo que é líder do ranking nacional, o empresário tem negócios na construção civil, uma bike shop e uma rede de auto-lanches. Kid já foi ciclista profissional e criou a própria equipe em 2007. O time começou pequeno e decolou depois que Roberto Pinheiro venceu a Copa da República no Aterro do Flamengo, em 2007. “Como a prova foi transmitida ao vivo pela Globo, o nome da cidade apareceu no Brasil inteiro no Globo Esporte. No dia seguinte, sentei com o prefeito e consegui um apoio financeiro. Até então meu orçamento era de R$ 5 mil mensais”, conta. Não demorou até que o time disputasse sua primeira corrida no exterior, no Uruguai.
Em 2016, primeiro ano na categoria Pro Continental, a Funvic disputou provas no Gabão, Espanha, Itália, Portugal, Malásia, Turquia e China e conquistou colocações importantes em algumas provas.
A equipe nunca teve um grande patrocinador e, frente às grandes equipes europeias, a Funvic é bem modesta. São aproximadamente 500 mil euros de orçamento, contra 30 milhões de euros da Sky, por exemplo. “Pelo que temos, fizemos bonito. Chegamos onde nenhuma outra equipe brasileira jamais chegou. É uma enorme satisfação alinhar ao lado de nomes como Valverde, Contador e Froome. Tiramos leite de pedra.”

A Funvic na apresentação das equipes da Volta a Portugal do ano passado
Quando perguntado se a equipe ficou forte demais para disputar as provas do calendário nacional, Kid responde com franqueza. “As provas nacionais são importantes, mas eu quero mesmo é levar o ciclismo brasileiro para o mundo.” Vale lembrar que a Funvic estreia a temporada internacional como uma das sete convidadas para a disputa da 97ª edição da Volta da Catalunha, na Espanha, competição do calendário UCI World Tour, de 20 a 26 de março.
No “país do futebol”, fazer ciclismo é um desafio para loucos e poucos. “O patrocinador não pergunta se vamos ganhar corridas ou não. Ele quer só saber onde vai aparecer. Por isto é importante ter um calendário de provas. A matéria-prima para o ciclismo crescer é ter mais provas”, afirma. “Depois que a TV Globo parou de transmitir provas de ciclismo e não tivemos mais a Volta de São Paulo ficou pior”, lamenta.
Apesar da crise econômica atual e das dificuldades que o País atravessa, a equipe paga direitinho e este ano o empresário injetou R$ 300 mil do próprio bolso em melhorias para a equipe . “Nunca tivemos problemas de salário. Está sempre tudo em dia”, garante.



