
Roberto Bettini na Volta da Turquia Foto: Dani Prandi/Bikemagazine
Dani Prandi / Do Bikemagazine
Fotos: Roberto Bettini/acervo pessoal
Roberto Bettini esbanja energia ao descer da moto depois de fotografar mais uma etapa da Volta da Turquia, no início de outubro. O fotógrafo italiano de Milão, uma lenda no mundo do ciclismo, corre para a sala de imprensa para disponibilizar on-line as imagens para seus clientes, empresas de mídia, agências e equipes de ciclismo. Bettini, que calcula já ter fotografado mais de 5 mil corridas, é uma das principais referências no esporte. Rapidamente, as fotos começam a aparecer nos sites e nas colunas de ciclismo dos grandes jornais mundo afora.

A vitória de Giuseppe Saronni, em 1975, foi sua primeira foto publicada
Entre uma etapa e outra, Bettini contou ao Bikemagazine um pouco de sua trajetória. O ciclismo sempre esteve presente em sua vida, já que morava em frente ao Velódromo Vigorelli, em Milão, e estava acostumado a acompanhar os treinos dos atletas. O italiano de 56 anos lembrou que tudo começou quando um amigo o convidou para tirar fotos de uma competição de bicicleta quando tinha 15 anos e de sua primeira foto publicada, da vitória de Giuseppe Saronni, em 1975, que ele logo depois envia por e-mail. É uma imagem da chegada, com o rosto do vencedor em destaque. “Fiquei parado ali esperando a chegada e só”, diverte-se.
O italiano garante que, desde então, nunca mais teve um domingo livre. Depois de cursar escola de fotografia nos anos 1980, Bettini fotografou o Giro D’Itália “completo” em 1986 pela primeira vez. “Naquela época, o fotógrafo ia na moto, fazia as fotos, tirava o filme e entregava ao condutor do trem, que levava o filme para ser revelado em Milão”, relata. “Também já chegamos a revelar o filme dentro do carro”, continua.
Bettini diz que prefere as fotos que faz quando está a pé, após escolher o melhor ângulo, do que as que faz quando está na moto. “As fotos tiradas das motos são sempre as mesmas, nas mesmas curvas. Tirar a foto é fácil”, diz ele, que já caiu duas vezes da moto no mesmo dia nos pavés da Paris-Roubaix, entre outras quedas.

Roberto Bettini em ação

O ciclista solitário na fuga e as flores vermelhas no Giro D’Itália, por Bettini
O italiano destaca que as fotos que aparecem “de surpresa” são ainda melhores. “No Giro, uma vez fiquei uma hora procurando um bom lugar, à frente do pelotão, que estava agrupado. Mas quando preparei tudo quem passou foi um atleta escapado, sozinho, e na hora vi que a foto era outra, na composição entre a cabeça do ciclista e as flores vermelhas”, diz, empolgado pela lembrança (veja a foto acima).
Paola Fontana, sua esposa, é sua parceira no trabalho e ele conta que a conheceu em uma corrida de bicicleta. “Paola passou na quarta colocação e eu fotografei. Disseram que ela talvez teria vencido, mas eu mostrei que não. Algum tempo depois nos reencontramos em uma outra corrida e ela me reconheceu e veio falar comigo. “Então foi você?”, ela já chegou falando”, conta.

Cipollini e Pantani no foco de Bettini
Entre suas tantas experiências no pelotão, pergunto sobre personagens que ficaram marcados em sua memória e ele logo ri e se lembra de como, no passado, as regras eram mais relaxadas e que um dia Mario Cipollini pediu para ele, que estava na moto da imprensa, comprar um sanduíche de presunto em um determinado bar no percurso. “Entreguei o sanduíche ali no meio do pelotão. Hoje isso é algo impossível.”
Mas é o lendário Marco Pantani quem traz novas e divertidas recordações. “Em 1994 e 1995 Pantani ganhou o Giro e o Tour, mas os dois anos seguintes foram ruins, já que ele caiu e abandonou. No começo da temporada de 1998, quando ele me viu, me chamou para tirar uma foto dele fingindo que estava caindo e disse: “Já caí, agora é só ganhar”. Quando o Pantani começou ele tinha o cabelo arrepiado, era bem diferente da imagem que o tornou conhecido”, conta Bettini.
“Pantani gostava de falar com todos, era muito amigável, mas as pessoas que trabalhavam com ele não o deixavam ter contato com ninguém, ele era muito protegido”, continua.

Pantani finge cair para escapar da maldição das quedas em 1998
Bettini já fotografou as provas mais importantes do ciclismo e três Olimpíadas (Atlanta, Sydney e Atenas). Sobre o Grand Tour, brinca: “É como se diz: o Giro é para foto, o Tour é para o ciclista e a Vuelta é para a festa”. Suas provas favoritas, porém, são a Paris-Roubaix e o Tour de Flanders. Também costuma fotografar ciclismo de pista e provas de ciclocross.
Bettini acompanhou toda a mudança tecnológica que permite que em poucos segundos suas fotos da chegada de uma etapa do Tour de France, por exemplo, estejam publicadas internet afora. O italiano lembra que, em Atlanta, em 1996, ele conheceu a primeira máquina digital, que fazia fotos com 3 megapixels, e custava 30 mil euros.
“Logo depois, em 1997, o preço havia baixado para 14 mil euros, o que também era muito, mas eu investi e fui o único fotógrafo do Giro com uma câmera digital. Em 1998 fotografei a vitória do Pantani com a máquina, uma Canon-Kodak, mas ainda bem que também usei outra com filme porque senão só teria fotos de 3 megapixels”, diverte-se.
Em seu arquivo todos os originais estão guardados e catalogados, assim como seus 36 terabytes de fotos. E vem mais por aí. Depois da Turquia Bettini já estava com mais quatro compromissos agendados. “A temporada termina, mas o trabalho continua. Logo teremos as apresentações das equipes e começa tudo de novo.”
Para a reportagem Bettini nos enviou uma seleção de imagens de seus arquivos. Confira:

Fabian Cancellara no Tour de France

Alberto Contador no Giro D’Itália

O Terminillo na Tirreno-Adriático

Pelotão na Milão-Turim

Pelotão no Tour de France

Registro de prova do ciclismo de pista em Guadalupe



