A tecnologia deve ser aproveitada em favor do ciclista que procura mais desempenho
Por Cadu Polazzo
Fotos de divulgação
A tecnologia está cada vez mais presente na vida de qualquer pessoa. O mesmo acontece com o ciclismo: nos últimos anos, um sem-número de novidades cibernéticas chegaram para, em teoria, facilitar a vida de quem pedala. Porém, com a grande quantidade de aplicativos e o avanço tecnológico dos rolos inteligentes e interativos, é preciso entender para que a evolução aconteça.
Por isso, convidamos o treinador esportivo Cadu Polazzo para tirar algumas dúvidas e orientar quem procura uma melhora de desempenho. Com mais de 24 anos de carreira dedicada à performance nas mais diversas modalidades do ciclismo, e atual técnico da Seleção Brasileira de Mountain Bike, ele respondeu a algumas perguntas para quem procura evolução no treinamento.
Cadu Polazzo tem mais de 24 anos de carreira dedicada à performance em diversas modalidades do ciclismo
Confira abaixo nossa conversa com o Cadu.
Quais são os benefícios dos treinos de ciclismo indoor?
Existem diversas vantagens neste tipo de treinamento. Acredito que uma das principais seja em relação à constância de esforço. No treino ao ar livre, o ciclista perde potência quando vem uma descida, por exemplo, o que não acontece quando você está no rolo, seja ele qual for. Quando o treinamento prescreve um estímulo longo, por exemplo, como dois esforços de 20 minutos em alta intensidade, no rolo você consegue manter a constância e ativar bastante a musculatura.
Isso é uma vantagem para qualquer pessoa, mas principalmente para quem mora em regiões que não possuem serra ou mesmo que não encontram locais planos longos para treinar. O treino do rolo consegue suprir essas necessidades.
Tem outra vantagem muito interessante: a precisão. Caso o atleta precise produzir uma intensidade específica, principalmente pra quem tem rolos com potência, que são cada vez mais comuns. Se o rolo que você usa não tem potência, você pode usar o medidor de potência que está no pedal, na pedivela ou até no cubo. No treinamento indoor, é possível determinar com precisão qual a intensidade que você vai fazer o treinamento intervalado e em qual intensidade você vai fazer a recuperação.
Outra vantagem: o trabalho de cadência. O ciclista consegue trabalhar um giro constante, trabalhar uma cadência diferente e até fazer o que a gente chama de treinos educativos no rolo: trabalhar com uma perna só, depois trabalha só com a outra perna.
Quais as vantagens dos rolos inteligentes, chamados de rolos smart?
Um dos detalhes mais interessantes para quem utiliza rolos smart é a possibilidade de interações. Existem muitas possibilidade de desafios, de treinamentos em grupo e até de participação em provas.
Diversos rolos smart são compatíveis com apps e simuladores de ambientes reais, o que faz com que eles sejam quase como um videogame. Em geral, o treinamento indoor pode ser associado a uma prática solitária, mas com essas interações isso pode mudar um pouco.
Plataformas como o BKool e Zwift, por exemplo, oferece a possibilidade de treinos em pelotões, que são muito bacanas. O próprio relevo sugerido pelo aplicativo vai exigir do ciclista uma mudança de marcha, uma mudança de cadência, que é uma coisa que até pouco tempo atrás não existia para quem treina sozinho em um rolo.
Uma característica que eu gosto muito é que esses aplicativos também têm corridas, eventos, tours famosos. E isso é muito bacana até para seguir o treinamento: colocar, por exemplo, um evento desses como competição e fazer ritmo de prova. É bastante interessante, sim, e quem tiver essa oportunidade, deve aproveitar.
Existem cuidados que se deve ter ao treinar no rolo em casa?
Primeiro de tudo, é sempre importante treinar sob acompanhamento de um profissional capacitado, que oriente, que direcione e que analise tudo o que tem sido feito.
Como qualquer treinamento, quem treina indoor precisa ter alguns cuidados. Um deles é que esse tipo de treino no rolo é muito constante. Por exemplo: um pedal de 1h30min no rolo tende a ser muito mais desgastante do que um pedal em ambiente aberto. Especialmente em ambientes ao ar livre com subidas leves.
A constância de esforço vai gerar um desgaste maior, então é muito importante prestar atenção se for ficando muito cansado pra dosar e diminuir o ritmo. Entre nós treinadores, falamos que o ideal é diminuir de 15 a 30% no tempo que você faria se o pedal fosse ao ar livre – para descontar subidas e descidas e equilibrar o esforço. Aos poucos, quando o ciclista for se acostumando, aí, sim, é possível pedalar a mesma duração.
Outra questão importante é a desidratação. Pedalar em um ambiente interno desidrata muito mais do que ao ar livre. Então ligue o ventilador, beba bastante água com sais minerais e fique atento para não desidratar.
Para quem não tem rolos interativos, como fazer as medições de frequência cardíaca, por exemplo?
É possível treinar em rolos tradicionais, digamos assim, e utilizar uma frequência cardíaca à parte do equipamento. Como eu disse antes, uma das coisas que acontece em ambiente aberto é a inconstância de ritmo. No rolo, a constância é maior: quando você encaixa uma marcha, um ritmo constante você pode prestar mais atenção e perceber quanto tempo que a sua frequência cardíaca demora pra se estabilizar. Esse período varia, dependendo da cinética da frequência cardíaca da pessoa, de 30 segundos até 1min30s.
Esse é outro benefício do rolo. A pessoa vai aprender a controlar o esforço através da frequência. Vai lá, encaixa um ritmo, observa a frequência subindo no display do relógio, do Garmin, até estabilizar. E aí vai perceber que ela estabiliza, digamos, com 1 minuto.
Para quem quer usar o Zwift, por exemplo, é possível utilizar um medidor de velocidade, que você coloca na roda e aí consegue interagir com o Zwift. E também é possível entrar nesse ambiente virtual e controlar pela frequência cardíaca. ´
Se a pessoa tiver uma cinta cardíaca, ela também se comunica com ferramentas como o Zwift, e aí o ciclista, e o treinador dele, conseguem ter acesso aos gráficos e todas as informações.
