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Abrahamsen com a camisa de líder de montanhas no Tour de France – Foto de Billy Ceusters

Do Bikemagazine
Fotos de divulgação

Quando se pensa em ciclismo profissional de alto nível, pensamos em corpos esguios, leves e ágeis. Percentual de gordura baixo é a regra no ciclismo de estrada. Neste universo onde cada grama conta, o norueguês Jonas Abrahamsen (Uno-X Mobility) fez um caminho no mínimo inusitado e precisou ganhar 20kg para melhorar seu desempenho e começar a ganhar provas.

Depois de algumas temporadas sem pódio, este ano Abrahamsen foi campeão de montanha da Étoile de Bességes em fevereiro, vice-campeão da Dwars Door Vlaanderenem em março, campeão da Brussels Classic e segundo colocado na Dwars door het Hageland em junho.

No Tour de France deste ano, o ciclista conquistou a cobiçada camisa branca com bolas vermelhas de líder geral da classificação de montanhas logo na primeira etapa e a sustentou até a 10ª etapa, quando foi superado por ninguém menos que Tadej Pogacar. No final, Abrahamsen concluiu o Tour de France na 8ª colocação geral da classificação de montanhas e foi eleito o mais combativo na segunda e na oitava etapa. Na classificação geral, o ciclista foi o 55° colocado, a 3h38min58s de Pogacar.

Nascido em Skien, o ciclista de 28 anos e 1,82 metros de estatura, conta que sempre lutou com a balança e a magreza o incomoda desde sempre. Em uma entrevista ao canal do Youtube GCN, Abrahamsem contou como foi o processo para ganhar mais músculos e se tornar um ciclista mais forte e apto a vitórias em grandes eventos como o Tour.

Abrahamsen aos 17 anos – Foto do arquivo pessoal

Depois do “regime de engorda” que começou no ano 2020, Abrahamsem começou a colher melhores resultados. Em 2023, foi terceiro na 18ª etapa do Tour de France e conquistou a medalha de bronze no campeonato nacional dinamarquês no ano passado. Até 2020, o ciclista pesava 58kg.

“Sempre fui ativo. Eu trabalhava de eletricista 7 horas por dia e depois ia treinar. Fiz isso durante dois anos e meio. Eu comia pouco, até por falta de tempo. Sempre fui muito magro e me sentia sempre com fome. Eu sabia que não nasci para pesar apenas 58kg. Também sabia que para aumentar meu FTP e minha potência eu precisaria ganhar músculos e para isto eu precisaria comer bastante”, lembra.

Abrahamsen no Tour de France deste ano fazendo o reabastecimento – Foto de Billy Ceusters

Abrahamsem ganhou sua primeira corrida de bike aos 18 anos e integrou a seleção nacional da Dinamarca. No segundo ano de carreira ingressou na equipe Uno-X, mas sentia que para andar bem em provas do tipo Tour de France precisaria mudar esta situação de magreza. “Neste período era até difícil renovar contrato com minha equipe. Eu sabia que se continuasse magro daquele jeito não teria muito futuro neste esporte”, recorda.

Abrahamsen em 2021, já no processo de ganho de massa muscular

A ideia era ganhar músculos e aumentar o FTP e a potência. “Pensei inicialmente em aumentar 5kg ou 6kg, pois meu objetivo era chegar a 6 Watts por quilo e 350-360 de FTP. Assim, dos 58kg no Tour de Avenir em 2017, Abrahamsem chegou aos 78kg no final de 2020.

O ciclista seguiu as dicas de um profissional da equipe britânica Ineos-Grenadiers e passou a comer mais.

“Praticamente eu comia de tudo. Meu peso tem ficado estável nos últimos três ou quatro anos”, resume. A nova dieta deu tão certo que Abrahamsem ganhou entre 6 ou 7cm de estatura no processo. “Agora tenho 1,83m e meus níveis de testosterona também aumentaram. “Eu fiz musculação, mas nem tanto. Faço mais academia durante o inverno. Meus treinos de estrada mudaram bem pouco”, contou.

Os números mostram uma grande evolução em sua forma física. O ciclista aumentou 50% a potência e o FTP saltou de 340-350 para 430. Nos testes de potência de 30 segundos, o resultado passou de 650W para 1.100 Watts e o nível de lactato também subiu. “Agora consigo lidar melhor com o vento e até sprintar, como fiz nas provas da Bélgica”, comemora.

Abrahamsen conquistou a camisa de montanha na 1ª etapa do Tour e a manteve até décima etapa – Foto de Billy Ceusters

De acordo com o ciclista, escalar também ficou mais fácil. “Agora tenho mais potência e força e chego com mais energia e com as pernas frescas nas montanhas. Agora todos os dias me sinto mais forte. Antes ficava doente com mais frequência e sofria mais lesões. Agora me recupero melhor”, conta.

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