
Alberto Contador no trecho final da 20ª etapa da Volta a Espanha
Dani Prandi / Do Bikemagazine
Foto de divulgação
Um tombo mal explicado tirou Alberto Contador do Tour de France. Chris Froome já havia saído. Após a decepção geral, os dois voltaram a se encontrar na Volta a Espanha, que termina hoje (14 de setembro). A princípio, o espanhol não estava nem cogitado para a Vuelta. Mas Contador anunciou no último minuto que iria para a disputa, que estava acreditando e o “milagre da tíbia” foi confirmado a cada subida. Não demorou para que seus detratores passassem a desconfiar da incrível recuperação de uma fratura em tão pouco tempo.
O assunto da queda no Tour voltou à tona. “Quebrou a tíbia do atleta ou a da bike?”, questionou um fã no Twitter. A falta de “provas” para a tíbia quebrada – como um raio X, por exemplo – só aumentou a desconfiança. Uma foto da bicicleta de Contador quebrada também piorou a cena. Mas, seja como for, é fato que Contador fez uma preparação impressionante para a temporada. Tinha tudo planejado e contou com a ajuda de Steven De Jongh, seu preparador físico desde março. Taí um nome a ser considerado nessa temporada de Contador.
O holandês, que atuou como diretor esportivo da Sky entre 2010 e 2012, foi ciclista profissional e disputou o Tour de France em 1998. De Jongh perdeu o emprego na Sky depois da equipe adotar uma política de tolerância zero para doping. Jongh, que se aposentou das competições em 2009, admitiu uso de EPO “em algumas ocasiões” entre 1998 e 2000. Leia mais
Foi o novo treinador que convenceu Contador a treinar em altitude e o levou para o Monte Teide, em Tenerife. Enquanto a maioria da equipe Tinkoff-Saxo permanecia ao nível do mar, nas Ilhas Canárias, Contador passou sua pré-temporada acumulando quilômetros nas alturas, sempre sob o acompanhamento de De Jongh. Parece que valeu a pena.
Foi justamente nas etapas de montanha que Contador mostrou que estava de volta e não estava para brincadeira. Na penúltima etapa, inclusive, El Pistolero deixou definitivamente para trás quem ainda duvidava de seu tricampeonato, neste sábado (12 de setembro).
Com Nairo Quintana (Movistar) fora da disputa, a Vuelta se tornou um duelo de forças entre Contador e Froome. Alejandro Valverde (Movistar), Fabio Aru (Astana) e Joaquim Rodriguez (Katusha) bem que tentaram, mas tiveram de se contentar em brigar entre eles.
O que todos, pelo menos no mundo do ciclismo, esperavam ver no Tour de France acabou acontecendo nessa duríssima edição 2014 da Volta a Espanha, com duas etapas “rainha”, não por acaso vencidas por Contador. Froome não decepcionou, mas admitiu que o rival estava mais forte.
O espanhol está a uma crono de entrar para a seleta galeria de campeões da Vuelta e se juntar a Tony Rominger com três vitórias – ganhou em 2008, 2012 e agora, em 2014. Rominger venceu em 1992, 1993 e 1994. (Roberto Heras venceu 4 (2000, 2003, 2004 e 2005), mas na última delas acusou EPO. Por problemas no processo, a vitória acabou sendo devolvida (mas o positivo sempre esteve lá) e em muitas estatísticas ele é tido como tricampeão também.
Desde que assumiu a liderança da Vuelta, na 10ª etapa, Contador nunca, em nenhum momento, cantou vitória. Mas agora, antes do julgamento final, uma crono na mítica Santiago de Compostela, o espanhol abriu o sorriso. “Agora é desfrutar.” Com vantagem de 1min38s para Chris Froome (Sky), reconhece que é o campeão e só algo muito inesperado vai tirar sua vitória.
Contador deixou escapar que a conquista é ainda mais gratificante por ter sido sobre Froome. “Ele é uma referência mundial e correr com ele e vencê-lo é motivação extra”, disse.
“Mas no próximo ano, todos nós começamos do zero”, faz questão de lembrar.



