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Estela Farah na cobertura do Tour de France de 2015

Estela Farah na cobertura do Tour de France de 2015

Dani Prandi /Do Bikemagazine
Fotos arquivo pessoal

Estela Farah surgiu no universo do ciclismo brasileiro como um sprintista que surpreende, fatura a vitória e deixa todo mundo se perguntando: quem é? Na temporada passada, conquistou o inédito feito de conferir, in loco, as três das mais prestigiadas provas do esporte, Giro D’Itália, Tour de France e Volta a Espanha, entre outras. E o melhor: nos lugares mais privilegiados do pelotão, sempre como comentarista da ESPN Brasil.

Em entrevista ao Bikemagazine, no final de fevereiro de 2016, durante os dias de reconhecimento do circuito olímpico, no Rio de Janeiro, Estela Farah contou um pouco de sua trajetória, entregou seus planos e, principalmente, expôs seu otimismo em relação ao futuro do ciclismo no Brasil.

Na cobertura da Volta a Espanha 2015

Em um dos belos cenários do Giro D’Itália 2015

Aos 25 anos, bela e com grandes amigos no meio do ciclismo, Estela Farah tem muitos pontos a seu favor. Fala inglês, italiano, espanhol e “um pouco” de francês. “Só não me peçam para aprender flamengo (da Bélgica)”, diverte-se. Há três anos tem circulado pelas rodinhas mais importantes do ciclismo mundial, cultiva amizades nas novas e velhas gerações e esbanja conhecimento sobre o esporte.

A paixão começou na infância quando assistia aos vídeos do Tour de France com seu avô, em uma época em que nem se pensava em transmissões ao vivo na TV brasileira. “Sempre gostei de entender as estratégias das etapas, de adivinhar as táticas das equipes, e principalmente, de torcer por Lance Armstrong”, entrega.

De fã, Lance Armstrong, aliás, tornou-se um de seus amigos graças ao mundo conectado. “Comecei a segui-lo em uma rede social e ele, que não seguia praticamente ninguém, me adicionou, elogiou minhas fotos, me mandou uma mensagem de Natal. No começo achava que aquilo não poderia ser verdade. Eu o questionei, disse que não acreditava que era ele e, então, veio a surpresa”, conta. Estela Farah saca seu telefone para mostrar um vídeo gravado por Lance de dentro do carro. “Olá Estela, sou eu mesmo…” começa o texano, que mostra a paisagem e comenta sobre o frio. Quando a polêmica confissão do doping entra na conversa, ela fica triste. “Acho que já sabia, mas assisti a entrevista que ele deu na Oprah várias vezes, sempre chorando.”

Da amizade com Lance surgiu um “pai” em sua vida. O manager Johan Bruyneel, belga, é lembrado com carinho. “Ele me trata como uma filha.”

Com a medalha de participação em Roubaix

Com a medalha de participação em Roubaix

Estela Farah é de Sorocaba, no interior paulista, e quando não está viajando vive com a mãe. Começou seus estudos em Educação Física, em Bauru, mas logo conseguiu transferir a faculdade para a Itália. “Sempre pratiquei esporte e gostava de jogar basquete”, lembra. Por causa de amigos em comum, se aproximou do mundo do ciclismo, fez amigos e chegou a disputar provas amadoras em Flanders e Roubaix.

O trabalho de comentarista na ESPN surgiu de repente. “Sei que tenho sotaque forte, voz estridente, até fiz um trabalho de impostação de voz depois do Giro, mas resolvi ser super eu mesma”, diz.

E foi esse “super eu mesma” que atraiu uma legião de fãs. De uma hora para outra Estela Farah passou a ser referência para os aficionados por ciclismo no Brasil. Seus comentários de dentro do pelotão, as entrevistas exclusivas e as informações de bastidores se tornaram um diferencial na cobertura da TV e em seus posts nas redes sociais. No ano passado, por seu trabalho, foi escolhida como embaixadora da rede Social Peloton, que reúne os fãs do esporte ao redor do mundo. “Eles convidaram um espanhol, um italiano e eu. Acho que enxergaram o potencial do Brasil.”

Apesar de sua presença na temporada 2016 estar garantida na ESPN Brasil, Estela Farah tem mais planos. E eles já começaram a ser colocados em prática. Disposta a batalhar pelo ciclismo brasileiro, a jovem tem aproveitado suas conexões mundo afora para conquistar convites para a seleção brasileira, com o aval da CBC (Confederação Brasileira de Ciclismo). No Tour de San Luis, na Argentina, em janeiro, foi como general manager da equipe, basicamente formada por ciclistas Sub 23. “Fomos mal, o convite foi conquistado de última hora, mas estamos no caminho.”

Outras provas virão, garante, como o Giro de Trentino, em abril, que vai contar com a inédita participação de uma seleção brasileira, ainda a ser definida, graças ao convite batalhado por ela. “No Brasil faltam competições, as quilometragens são baixas, e o que os nossos ciclistas precisam é ser jogados aos leões e se tornarem conhecidos no pelotão internacional”, diz. “Quero tudo bonitinho,  o esporte precisa de visibilidade para atrair patrocinadores. A gente precisa é de um Froome (Chris Froome, bicampeão do Tour de France)”, afirma a expert que, hoje, começou uma especialização em Comunicação Desportiva.

“Prefiro fazer do que aparecer”, declara, quando questionada sobre suas motivações. “Fui metendo o nariz onde ninguém ia porque vi que alguém ia ter que fazer”, completa. Com o apoio da CBC e nomes como Tom Boonen, Purito Rodriguez, Nacer Bouhanni e Mario Cipollini na agenda do telefone celular, para citar só alguns, ela acredita que seus esforços serão recompensados. “Eu tinha tudo para ser uma patricinha fútil, mas o ciclismo me atingiu. Se me atingiu, vai chegar nas outras pessoas.”