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A Funvic para a temporada 2017 terá 17 ciclistas do masculino e quatro no feminino Foto: Luis Claudio Antunes

A Funvic para a temporada 2017 Foto: Luis Claudio Antunes

Marcos Adami / Do Bikemagazine
Fotos de divulgação

O auditório ficou lotado para receber a equipe de ciclismo para a temporada 2017. Os atletas, com os novos uniformes, e a comissão técnica sentados na primeira fila fecharam os olhos e acompanharam a oração do pastor. A Funvic, abreviação de Fundação Vida Cristã, é uma instituição de ensino com valores cristãos que tem Harvard como inspiração. O evento em Pindamonhangaba (SP), que durou quase duas horas, serviu também de aula inaugural e de boas-vindas para os novos alunos na quinta-feira (9 de fevereiro), e contou com a presença do Bikemagazine.

No campus fora da cidade, do outro lado da Dutra, a faculdade oferece dezenas de cursos. Todo atleta da Funvic tem bolsa garantida e ali se formaram atletas como Renato Ruiz e Luciene Ferreira (educação física), Breno Sidotti (nutrição). Flávio Santos, o Baiano, cursa o segundo ano da faculdade de educação física.

Na estrada com a equipe Pro Continental Funvic Foto: Luis Claudio Antunes

Na estrada com a equipe Pro Continental do Brasil Foto: Luis Claudio Antunes

Para 2017, o time tem 21 ciclistas, incluindo quatro mulheres: Lauro Chaman, Francisco Chamorro, Roberto Silva, André Almeida, Pedro Nicácio, Magno Nazaret, Caio Godoy, Murilo Affonso, Flávio Santos, Daniel Silva, Jordi Simon, Gabriel Silva, André Gohr, Breno Morais, Victor Ranghetti, Rafael Pires e Lincoln Silva. No feminino estão Cristiane Silva, Luciene Ferreira da Silva, que está de volta após uma temporada na Shimano Ladies Power, Tatielle Valadares, de Roraima, que foi observada durante os Jogos Abertos de 2016, fez um teste na equipe durante uma prova em São Paulo e foi contratada, e Wellyda dos Santos Rodrigues, ex-Memorial.

A equipe fundada em 2007 por Benedito Tadeu Junior, o Kid, coleciona troféus. Só de campeonatos nacionais de estrada são seis títulos. Dois de Baiano, um de Otávio Bulgarelli, um de Antonio Garnero e dois de Luciene Ferreira. O time tem também títulos nacionais de crono com Pedro Nicácio e Luciene Ferreira, além de inúmeras vitórias em voltas, no Brasil e também no exterior. São tantas vitórias que nem eles sabem ao certo.

Mas não é só pelas vitórias que a equipe é lembrada. O ciclismo é ingrato e no Brasil só ganha as manchetes quando escândalos aparecem. Depois do susto de novembro, quando a equipe quase acabou por conta de dois casos positivos de doping, a equipe se comprometeu em buscar soluções e um trabalho de conscientização e informação está em curso.

Na parte da tarde todos os atletas e membros da equipe (com exceção de Francisco Chamorro) participaram de uma palestra com um dos professores do departamento de educação física que explicou direitinho os princípios de como funciona o corpo humano e como se ganha performance. Treinar, descansar, suplementar, comer direito.

Otávio Bulgarelli, campeão brasileiro pela Funvic em 2012 e agora membro da comissão técnica, improvisou uma palestra e alertou a todos, principalmente os novatos, sobre os riscos de ingerir qualquer substância que conste na lista de proibições.

Nem sempre um caso positivo é intencional. A lista de substâncias da UCI é atualizada todos os anos e é importante ficar atento. Nomes comerciais são diferentes do nome da substância. “Atualmente uma simples Neosaldina é doping”, explicou Magno Nazaret, um dos mais antigos na equipe, com 11 temporadas. Muitos fitoterápicos podem acusar positivo. Um simples tombo numa corrida e um atendimento num pronto-socorro podem trazer sérios problemas, já que muitos medicamentos têm em sua composição cortisona.

Numa competição na China, Roberto Pinheiro teve dificuldades em convencer o médico a não tomar um medicamento sem saber antes o que era. Com o passaporte biológico, o atleta deve diariamente, sem falhar nunca, informar num aplicativo de celular onde vai estar e, se não estiver no local informado, o ciclista pode ser notificado. Três notificações já contam como positivo.

Bulgarelli foi enfático. “Gente, isto aqui é ciclismo profissional, não é brincadeira. Temos que honrar o nome da equipe, da faculdade e dos patrocinadores. Se der problema, viramos notícia mundial. Nosso histórico condena.”

Breno Sidotti, ex-ciclista da equipe e agora nutricionista oficial do time, insistiu nos cuidados com toda substância que ingerir e ofereceu seus serviços. “Perguntem. Não tomem nenhum suplemento nutricional sem antes me consultar. Suplementos de marca duvidosa devem ser evitados, pois podem trazer em sua composição substâncias que não constam no rótulo e dar problema.”

Apresentação da equipe Foto: Luis Claudio Antunes

Apresentação da equipe Foto: Luis Claudio Antunes

O público no auditório já demonstrava certa impaciência e sonolência quando finalmente a equipe subiu no palco. “Acredito que foi Deus que trouxe cada um de vocês até aqui”, comentou o pastor. Todo mundo na cerimônia ganhou um exemplar da Bíblia Sagrada. “Já estou habituado a apresentações de equipe. É o momento de mostrar os atletas aos patrocinadores. Achei normal o fato de estarmos numa instituição católica”, comentou o ciclista português Daniel Silva, que não entende muito bem os pormenores religiosos no maior país católico do mundo.

Depois do sorteio de uma mountain bike, finalmente todos da equipe puderam comer uma pizza. Apesar de perder alguns patrocinadores importantes (Soul e Shimano pularam do barco quando ele ameaçou virar), Kid estava feliz. Ali, numa grande mesa, estava a nata do ciclismo brasileiro. “Faço ciclismo porque gosto disso. Não é pelo dinheiro. Uma temporada você ganha, outra você perde.”

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